Foi um dia muito especial assim como eram especiais as pessoas presentes, todas elas sem excepção.
Realizou-se na Biblioteca dos Riachos. O convite foi realizado por uma jovem senhora pertencente ao quadro da Biblioteca de Torres Novas. Aceitei com agrado.
O meu agradecimento ao Luís Bicho, extraordinário dinamizador e Director da Biblioteca de Torres Novas por ter tornado possível o acontecimento.
Foi um dia especial com pessoas muito especiais. Alguns ex-professores meus estavam presentes.
A pequena sala estava repleta. Variadas idades. Muitas caras conhecidas, algumas não. Perante os rostos expectantes, começou por falar a professora Lucinda Fialho logo seguida da professora Maria de Deus Barata António.
Os extraordinários actores Rafael Vergamota e a duplamente premiada actriz, Rute Lourenço, ambos pertencentes Àà Companhia de Teatro Pouca Terra leram algumas passagens da obra apresentada. A RUTE QUASE ME LEVOU ÀS LÁGRIMAS! Que sensibilidade! As lágrimas, desesperadamente retidas, teimavam em galgar as faces como uma torrente incontrolável. Falar do passado, sobretudo quando há nele passagens tão importantes como dolorosas, é sempre difícil. Ela conseguiu-o extraordinariamente bem. As minhas palavras na sua voz tocaram suavemente o coração ainda mal cicatrizado do passado. Há dores que não se curam. Ou que levam mais tempo a cicatrizar totalmente.
Senti-me em família. Aquela família que deve servir de exemplo a todas as outras. Também o aconchego da sala fez-nos sentir assim. Daí a confidência.
Detodas as narrativas lidas, há uma muito especial.
É especial, uma vez que é o único autobiográfico que, alguma vez, escreverei. Os presentes tiveram a oportunidade de ouvir sussurros do passado nas confidências que jamais serão repetidas.
Quero que saibam que se fez história naquela tarde primaveril. Minha e vossa. São testemunhos únicos de um passado que se perdera algures no tempo.
Nunca antes tinha falado dele. Nem mesmo aos meus pais. Era demasiado doloroso. Agora, depois de tantos anos, reuni a coragem necessária para o enfrentar e afugentar, finalmente, os fantasmas. Além da própria narrativa, petrificada no livro, ficaram a conhecer os segredos envolventes à mesma.
No final, e aproveitando a presença de pessoas queridas, como são os meus (ex-)professores para realizar uma pequena homenagem aos presentes e aos ausentes.
Ninguém se faz sozinho. Eu não sou excepção. Devo aquilo que sou aos meus professores. Tive muitos e bons. Todos me marcaram, cada um à sua maneira. A minha professora da primária, Maria da Luz Alvarenga, a professora Lucinda Fialho, a D. Leocádia Pataratas, Irmã Ana Maria, Professor Borges Simão, Maria de Lurdes Azevedo Mendes; da faculdade, professor de Linguística, José Herculano de Carvalho, de Literatura, Estudos Camonianos, Justino Mendes de Almeida... sem esquecer os meus professores de ciências que me aguçaram a curiosidade pela ciência, especialmente sobre certos campos.
Alguns deles estiveram presentes.
Entre todos, houve uma pessoa que se destacou em três aspectos fundamentais na sua grandiosa natureza humana e na sua majestosa cultura literária e não só, assim como na relação pedagógica com os alunos - a professora Lucinda Fialho. Pertencente à Escola EB 2,3 Manuel de Figueiredo, foi minha professora no segundo ciclo,no princípio da sua carreira.
Perdemos contacto durante muitos anos, mas nunca a esqueci. Marcou-me a todos os níveis. Abriu-me os horizontes numa idade em que andamos ainda a descobrir o mundo.
Perdemos o contacto durante uns anos, mas jamais a esqueci. Encontrá-la-ia anos mais tarde, estava então casada com outro meu professor de História do 12º ano, Carraça da Silva.
Reconhecia-a imediatamente. Após outro período sem contacto, voltei a encontrá-la. Um dia falarei sobre.
A todos o meu profundo agradecimento.
O meu agradecimento à Maria de Deus António e ao Barata António que fizeram um trabalho excepcional com a revisão textual que a editora, infelizmente, não honrou. O meu agradecimento também ao meu querido amigo Rogério (ele sabe quem é) pela ajuda durante a revisão enviada para a editora: eu ditava e ele escrevia!
Os meus agradecimentos ao Ricardo Duque pela excepcional reportagem fotográfica do acontecimento.
Obrigado a todos os presentes. Espero que se tenham divertido tanto como eu na certeza que ouviram confidências que não revelarei a mais ninguém.
Acho que não esqueci ninguém.
Abraço.
Fátima Nascimento
A seguir apresento o discurso da professsora Lucinda Fialho:
Apresentação do livro “Contornos II” de Fátima Nascimento
Desejo, desde já, uma Boa-tarde a todos, hoje aqui reunidos em torno do último livro de Fátima Nascimento,”Contornos II”, ou seja, em torno da literatura e da cultura Portuguesa. Bem-vindos, pois, a este encontro.
A minha presença aqui, para além da amizade que me liga à Fátima, deve-se ao facto de Fátima Nascimento, minha ex-aluna, me ter dado a honra de me convidar para esta delicada empresa de apresentar o seu livro “Contornos II”.
A Fátima é uma pessoa de extrema sensibilidade que devora a vida, escreve como quem respira para partilhar connosco, através da palavra, sentimentos, emoções, deslumbramentos, tristezas, amarguras, desencantos, encantos e esperança.
A sua obra reflecte a pessoa que é: uma resistente perante os obstáculos, uma lutadora por aquilo em que acredita e pelos valores que defende. Ela escreve quando fala e fala quando escreve.
O seu livro “Contornos II” (no seguimento de “Contornos”) é constituído por três contos “A Encruzilhada da Vida”; “Uma viagem inesquecível” e “A Fuga”. Gostei imenso destes contos. A linguagem é fluente e colorida e as estórias bem urdidas, contendo margens de silêncio, que mais não são que um convite ao leitor para que delas participe e nelas desvende o que, deveras, as sustenta. E, quanto a mim, em cada uma das estórias perpassa a importância dos valores, tanto sociais, como individuais e do mundo das emoções mais profundas que, cada um de nós tem que preservar. Cada um dos contos é, como diria Agustina Bessa Luís, uma “Canção diante de uma Porta Fechada”, uma das obras da trilogia “ Relações Humanas”, Canção essa que, depois do limite da dor, faz o milagre acontecer. A porta abre-se permitindo a renovação, o renascer. Este renascer que é simultaneamente pessoal e civilizacional, fundado “no amor que tudo cura” (“A encruzilhada da Vida”) em contraponto a uma realidade alicerçada na desumanidade, na indiferença, na rejeição, no desamor, e só vencida pela determinação, pelo enfrentar dos medos e pela forte corrente que se estabelece entre aqueles que, verdadeiramente, acreditam na “Canção”.
A palavra, a escrita e a Arte em geral, porque tocam a essência da Vida, são um dos melhores veículos para iluminar o caos em que o mundo em que vivemos se transformou. Para isso muito contribui a obra de Fátima Nascimento cuja leitura vos recomendo vivamente, porque faz jus à génese de Tudo e ao seu Retorno. “No princípio era o Verbo” e citando o grande e visionário poeta Herberto Hélder “ E chamou Deus à luz dia; e às trevas chamou noite; e fez-se a tarde e fez-se a manhã, dia primeiro…”(“Máquina de emaranhar paisagens”).
Acredito no poder da palavra para transmutar esta floresta tão áspera, tão violenta e inextrincável em que nos movemos, num outro dia primeiro.
Acredito que a Palavra, através de Fátima Nascimento, contribuirá para essa renovação, pela sua profunda simplicidade. Porque é tão difícil escrever tão bem, tocando a essência da vida e revelando uma mundividência tão única e plural, da forma (aparentemente) fácil como a Fátima o faz.
É também assim o seu livro de poemas “Espelho da vida” onde tudo circula: o amor, a desilusão, a amargura, a esperança. No corpo do poema pulsam todas as emoções, multiplicam-se os olhares, e, ao ritmo de cada palavra, dá-se uma explosão de estrelas. E é com essas estrelas, que o espelho reflecte, que Fátima nos estimula a fazer deste mundo um mundo mais digno de pessoas dignas. Ele é, sem dúvida, um apelo à humanidade e à dignidade que existe em cada um de nós.
A obra de Fátima Nascimento desvenda a promessa de mais uma jovem escritora da Literatura Portuguesa Contemporânea. Por isso, mais uma vez, vos convido a trilhar o percurso da sua escrita e a descobrir em cada estória narrada, de uma forma singular, o profundo compromisso que todos nós temos com a vida e com a sociedade em que vivemos.
Torres Novas, 9 de Maio de 2009-03-19
Lucinda Fialho
Agora, o de Maria de Deus Barata António:
Foi há algum tempo, em 4 de Junho de 2008, que a Fátima Nascimento, na sala de sessões da Junta de Freguesia de Nossa senhora de Fátima, no Entroncamento, apresentou o seu primeiro livro, “Contornos”.
Creio que esse momento único foi para ela determinante para novos voos que, em 02 de Dezembro de 2008, se consubstanciaram no livro de poemas “O Espelho da Vida”, onde encontramos o sentido visual da poesia de Fátima Nascimento, o seu olhar sobre as coisas, a projecção do seu eu poético em imagens reflectidas e reveladas num amplo quadro de imensidade em que o Abismo, A Esperança, A manhã Irrequieta nos revelam a sua relação com o mundo exterior, numa intersecção e convergência de planos, numa identificação perfeita de ser, sentir e criar.
E assim, numa autêntica euforia de criação, surge hoje o “ContornosII” em que, numa visão tripartida, passam diante dos nossos olhos paisagens de um olhar, imagens da vida de um António, estilhaçado pela dor que encontra eco nos seus amigos Luís, Manuela, Amélia e João cuja angústia é entrecortada com uma sugestiva frase em linguagem metafórica “ Na rua, o sol inundava a cidade de ma cor alegre que não tocava os seus corações gelados de medo”.
E mais adiante, uma adjectivação simples, mas cheia de beleza, aponta para a inocência da relação entre o protagonista, o António, e a sua “amável desconhecida”, essa desconhecida a quem “Falou de si aos olhos compreensíveis e amáveis”. Os olhos, mais uma vez os olhos, o olhar, que são uma constante neste conto, e que nos revelam paisagens de um olhar, imagens de uma vida que, mais adiante, nos é definida como cobardia porque “não soubera como renascer das cinzas”.
Mas o sentido do visual da Fátima é-nos dado numa bonita forma de dizer, numa autêntica prosa poética quando afirma “Sentia que já não iria mais voltar a deambular pela vida” esse António que, respondendo ao olhar de Luís” nos revela, quase a terminar, num fundo de ternura onde o amor que vence tudo está presente no regresso à casa da “sua desconhecida”. Em seguida, a autora, da asperidade real da vida e da alma nela, faz surgir “ A Fuga” profundamente humana e inquietante mas também fabulosamente tranquila.
São antinomias como realidade/utopia, lucidez/pesadelo, palavra/silêncio a chave dialéctica com que , me parece, entra e saem busca de si, que se notam em frases como “sentimento que ela precisava para si própria e que já não tinha”, “tudo desaparecera com a mãe”, “desapareceram com os seres que os haviam amado e protegido”. É nesta busca, em passos e descompassos, numa comunhão da natureza com as duas pequenitas que, num dramatismo intenso nos surge um Miguel, “suado de aflição” que assim “saiu para as garras da noite”.
De fino traço, a exprimir a agudeza do conceito, se nos depara “o rio que se agitava inquieto nas suas roupas cinzentas escuras, como cinzentas estavam as duas irmãzinhas”.
E a terminar “ A manhã acalmou vento”, “o sol despertou alegre mas indeciso espreguiçando os seus tímidos raios que afloravam o solo, desenhando, na luz, a sombra alongada de três seres. Haviam chegado.” E assim, em uníssono, a Fátima Nascimento faz ouvir fora de si a ressonância de si e dos outros numa prosa cheia de sabor humano.
A seguir às duas primeiras histórias, que tocam os corações daqueles que respiram, vivem e sentem pulsar de almas sofredoras, surge uma “Viagem Inesquecível”, na última parte com contornos bem definidos em que peregrinamos, através do traço admirável e da cor, por uma Itália de solo acolhedor e fértil em imagens admiráveis, em sinestesias de cor, perfume e sabor.
Em forma de ring composition ou “composição em anel”, “Uma Viagem Inesquecível começa e termina com Fernanda junto à lareira, à procura de si, contida num amor avassalador que, no entanto, e esfuma no tempo.
A sua ilnguagem, o seu traço, as suas tintas convergem todas num mundo de emoções.
É coração que fala na simplicidade do pulsar do seu próprio coração.
(em construção)
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